Prefácio

Num tempo, em que já lá vão uma série de anos, e para comemorar o aniversário de minha mãe, nós filhos resolvemos oferecer-lhe um exemplar da 6.ª edição de " O LIVRO EM BRANCO". Procurávamos assim, que ela desse um pouco asas sua imaginação e escrevesse aquilo que às vezes para nós era bom ouvir, ou então se tornava uma grande "seca", isto para utilizarmos termos de uma juventude um pouco rebelde que era a nossa. Mais uma vez o tempo passou e eis que um dia destes ela anunciou o desejo de editar o respectivo livro; pede-me a mim, se lhe faço a capa e o prefácio. Claro que recusar era difícil, sou filho e por isso posso ser suspeito, mas outro problema se levantava, quem mais e melhor a conhecia? Sendo assim, no vou falar de arquétipos, mas difícil não dizer, não falar do senso comum de algum sem estudos, do rumo e objectividade da sua vida e escrita, que apresenta na sua génese um idealismo vivencial e interiorizado que reflecte a procura de um mundo melhor e mais perfeito. Como falar de uma mãe, viúva desde os 32 anos, que sentiu o peso do trabalho, a dificuldade da vida... como falar do seu trabalho no dia-a-dia e da força de vontade de viver e ajudar os outros... como dizer dos seus conflitos internos e existenciais, sem esquecer a morte de sua me minha avó, que tanto a abalou, passando pelo conflito de gerações que foi criar cinco filhos... Como vêm a tarefa tornou-se difícil e suspeitosa como atrás refiro, mas não quero acabar estas poucas linhas sem demonstrar o meu mais terno agradecimento, dedicando-lhe a ela, minha Mãe, este pequeno poema:

Vão e vêm
Passam por aqui
Fazem-me festas
E eu
Sinto,
Vejo
E olho,
Percebendo-as a passar
Aqui à volta
Ali,
Como se tudo fosse delas.
São as mãos...
As mãos de minha mãe
Que por vezes
Me parecem
Macias,
Ásperas
E duras,
Como duro é o trabalho
De tantos anos.
As mãos...
As mãos de minha Mãe... 


João Laia, Coimbra 1993